SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

sábado, 26 de setembro de 2015

150 ANOS DE JUVENAL GALENO

Mais que um poeta

" No aniversário do escritor cearense e nos 150 anos de publicação de sua principal obra, o Vida&Arte resgata a figura que foi além da poesia"

 
 
 
DIVULGAÇÃO EDIMAR SOARES
" À esquerda, retrato mais conhecido de Juvenal Galeno. Hoje,
 a memória do escritor é cuidada pelo bisneto, Antonio Galeno (dir)

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" Estampada em sua fotografia mais conhecida, a imagem de um Juvenal Galeno (1836-1931) velho, frágil, de longa barba branca, com mais ar de santo que de intelectual, ficou para a história. E, junto com ela, a ideia de que sua importância se restringiria à poesia e ao folclore. Por ocasião do dia de nascimento do escritor cearense, amanhã, 27 de setembro, e dos 150 anos de sua principal obra, Lendas e canções populares, lançada em 1865, é preciso sublinhar: ele fez mais. Tanto em sua trajetória literária como no cenário das letras do Ceará.
Filho de barões do café, desde muito pequeno Juvenal sempre demonstrou mais interesse pela poesia que pelas plantações da família no sítio Boa Vista, em Pacatuba. Aos 13 anos, lançou o primeiro jornal literário do Estado, Sempre viva, começando ali sua trajetória de precursor. “Ele inaugurou quase tudo a que se refere a nossa literatura”, diz Raymundo Netto, editor adjunto das Edições Demócrito Rocha, que coordenou uma coleção sobre Galeno publicada pela Secretaria da Cultura do Estado.

É do autor também o mérito de dar os primeiros passos do que viria a ser o Romantismo cearense com Prelúdios poéticos. A despeito das dúvidas lançadas por Antônio Sales sobre o teor romântico da obra publicada em 1856, no Rio de Janeiro -- aonde o pai o mandara aprender novas técnicas de cultivo do café e de onde ele voltou com dois exemplares de sua poesia --, o livro faz referência a nomes essenciais do gênero no Brasil. “A gente vê inúmeras epígrafes retiradas de Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo, o que prova que era, sim, romântico”, corrige Sânzio de Azevedo, pesquisador da literatura cearense e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará.

Anos mais tarde, em 1859, Galeno é responsável também pela primeira peça escrita e encenada no Ceará, Quem com ferro fere com ferro será ferido (1861). O ator Ricardo Guilherme, que durante anos guardou o original da peça, hoje na Biblioteca Pública Menezes Pimentel, ressalta a vocação “sociológica” do dramaturgo Juvenal “ao retratar nessa sua única obra teatral os desmandos dos chefes políticos interioranos”. Bem anterior aos títulos mais decisivos de Juvenal, essa peça-provérbio, como chama o ator, “constitui uma escolha típica de quem preserva e divulga a sabedoria popular”.

E esse interesse pelo que é do povo (sua cultura, seus costumes, seu cotidiano) perpassa toda a obra de Juvenal e o faz uma figura ainda mais interessante. Mesmo que se tenha dito, erroneamente, que foi por orientação do seu amigo Gonçalves Dias que ele investiu na poesia popular. “Ainda criança ele despertou para as diferenças sociais. Era abolicionista, conviveu com o homem do sertão, da serra, do interior e se aproximou dos pescadores. Esse interesse era natural”, diz o bisneto Antônio Galeno, há oito anos à frente da Casa de Juvenal Galeno, no Centro de Fortaleza. “Durante sua trajetória, inclusive, ele foi discriminado por dar voz ao povo mais simples”, lembra o herdeiro.

É em Lendas e Canções Populares que essa inclinação aparece em sua melhor forma. De acordo com Sânzio, o livro é considerado a obra-prima de Galeno por ser o “mais bem acabado”. “São poemas em que interpreta o pensamento do povo. Alguns são desenvolvimento de cantigas e poemas que já existiam, como O cajueiro pequenino. Tem ainda A jangada, baseado na prosa popular e que eu considero o melhor poema dele”, diz o especialista.

150 anos depois, esses versos de Juvenal são redescobertos na música. Ele, que também emprestava poemas para as melodias de Alberto Nepomuceno (1864-1931), ganhou releitura de A Jangada pela banda cearense Banana Scrait, formada por Andrea Agda e Daniel Arruda. Para eles, uma forma de manter viva nossa memória. “Isso nos ensina que a música é algo incrível que pode romper barreiras e fazer com que a gente se aproxime mais e admire a nossa história e essas pessoas que não são apenas nomes de ruas ou estátuas em praças”, arremata Andrea.



Serviço



Sessão solene em memória de Juvenal Galeno
Quando: Amanhã, 27, às 15 horas Onde: Casa de Juvenal Galeno (Rua General Sampaio, 1128 - Centro)
Gratuito.Veja programação completa em opovo.com.br


FONTE: JORNAL O POVO
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2015/09/26/noticiasjornalvidaearte,3510115/mais-que-um-poeta.shtml  

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